17 Setembro 2019 10:00 | Sala Ramón Gómez de la Serna, Círculo de Bellas Artes
Intervenção de Philip E.R. Dickmans
Senhores e senhoras, irmãos e irmãs,
É com muita alegria e humildade, que venho contribuir neste encontro internacional, organizado pela Comunidade Santo EgÍdio, na promoção de uma cultura de paz. Fico feliz com este convite e aproveito para fazer minha homenagem ao meu irmão Mgr Leon Lemmens, por ser um dos grandes promotores e hoje está com o Pai Celeste.
Foi me solicitado para falar sobre o Sínodo Especial para a Amazônia num contexto atual da América Latina e de modo especial do Brasil, onde já estou 23 anos com missionário e 11 com bispo. Quero falar da preparação para o sínodo no mês de Outubro dentro de uma realidade bem desafiadora que estamos vivendo no Brasil
O Sínodo foi convocado pelo Papa Francisco no dia 15 de outubro 2017 no Vaticano e o processo sinodal iniciou na sua visita a Puerto Moldado no dia 19 de janeiro de 2018.
Os 500anos de colonização mudaram a vida dos Índios. Colonização e evangelização muitas vezes iam juntas, mas no decorrer da história muitos missionários fizeram a opção por aqueles povos com amor e dedicação, enfrentando as dificuldades para levar a Boa Nova. E a missão era muita mais de que batizar; também levar saúde e educação e tantas outras coisas para o bem desses povos.
A Amazônia sempre foi vista com um território lindo, com sua floresta e águas, seus povos e animais, um lugar de muita vida, o pulmão do mundo. Mas do outro lado àquela terra rica de minérios, madeira, água, para ser explorada sem limites. O atual governo na pessoa do seu presidente quer explorar essa vasta terra de qualquer jeito. Lucro, dinheiro, exploração sem limite e sem respeito. Os Índigos e os povos ribeirinhos são vistos com preguiçosos, sem futuro, atrasando o desenvolvimento. O dinheiro e o poder falam mais alto. O presidente assinou uma medida provisória que abre a terá da Amazônia para garimpo e exploração. No mês de julho o desmatamento aumentou em 300%. Aldeias Indígenas são invadidas, lideranças são mortos. Povos tem que mudar de lugar. Com mais liberdade de comprar armas, a violência aumenta. Estamos indo para um novo Fare West, onde a lei dos grandes e poderosos fala mais alto. Os bispos da Amazônia, já desde muitos tempos se reuniram para defender os povos e suas terras. Padres, religiosas e lideranças morreram porque falaram em voz profética. Outras são ameaçadas ou até presos sem justa causa. Mas com disse São Oscar Romero: “uma Igreja sem perseguição, não é uma igreja profética”. Por isso o Sínodo da Amazônia parece uma preocupação do governo. Para o presidente da república, a CNBB é a parte mais podre da igreja católica, por sua defesa aos menos favorecidos da Amazônia. Por isso o governo quer nos fiscalizar, mas quem faz isso é o Povo e Deus.
A voz dos Papas Paulo VI, Joao Paulo II e Francisco; os documentos de Santarém, Medellín, Puebla, Santo Domingos e Aparecida e a encíclica Laudato Si levam a pensar a Amazônia e seus povos de uma maneira diferente. Onde o mundo tem seu pensamento de lucro e destruição, a Igreja chama para a cultura de paz e respeito para os povos e a natureza. A partir daí vem o titulo do Sínodo para a Amazônia: ´Novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral´. No final de junho foi lançado o Instrumentum Laboris, que é o resultado de um trabalho de rodas de conversas com o povo da Amazônia. O Papa Francisco sempre insistiu em ouvir a voz do povo de Deus amazonense.
O documento Laboris nos ajuda a ver a realidade da Amazônia e também faz suas propostas:
1. A voz da Amazônia: “É bom que agora sejais vós próprios a autodefinir-vos e a mostra-nos a vossa identidade. Precisamos escutar-vos” (Francisco) A evangelização na América Latina constitui um dom da Providencia que chama todos à salvação em Cristo. Apesar da colonização militar, política e cultural, e para além da ganância e da ambição dos colonizadores. Numerosos missionários entregaram a própria vida para transmitir o Evangelho. O sentido missional não somente inspirou a formação de comunidades cristãs, mas também uma legislação, como as Leis das Índias, que protegiam a dignidade dos indígenas contra violações de seus povos e territórios. Hoje a situação diante das novas formas de colonização leve a Igreja a ter, mais transparência no seu papel profético. Amazônia é fonte de vida, a vida do território, de seus povos, da Igreja, do planeta. O rio Amazonas é a grande expressão desta vida em sua totalidade. É o ‘bem-viver e o fazer- bem’; a busca da ‘terra sem males’. Mas a vida é ameaçada pelos grandes projetos que destroem e exploram o território e pela violação dos direitos elementares da população. É preocupante que hoje em dia já estamos entre 15% e 20% de desmatamento. Esses clamores para viver provocam conversão, comunhão e diálogo. Precisamos de caminhos de integração com abundância da vida, com a história, com o porvir. Como podemos dizer: Tudo esta interligado: a Amazônia revela a beleza de Deus em Todas as coisas que existem e convivem amigavelmente.
Por isso o Sínodo é Kairós, tempo de graça, sinal dos tempos onde o Espirito Santo abre novos caminhos que discernimos por meio de um dialogo recíproco entre o Povo de Deus e as sabedorias dos ancestrais. Precisamos promover a cultura do encontro, o tempo de enculturação e de interculturidade, o tempo de esperança. Em tudo isso precisamos novos caminhos de diálogo, de missão, de aprendizagem e de resistência. Precisamos de um caminho de conversão, de ouvir a voz da Amazônia e de responder como Igreja profética e samaritana.
2. Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres: “ Proponho que nos detenhamos agora a refletir sobre os diferentes elementos de uma ecologia integral, ambiental, econômica e social” (Francisco). A Amazônia esta sendo disputada por várias frentes que impactam sobre o território e sobre os povos que nela vivem. Falta de reconhecimento e demarcação das terras indígenas, hidrelétricas, mineração ilegal, hidróvias, monocultura, agroindústrias que são apoiados pelos governos locais, nacionais e estrangeiros. Poluição de rios, solos e ar, desmatamento e deterioração da qualidade de vida, culturas e espiritualidades. Precisamos de uma ecologia integral para chegar a um verdadeiro desenvolvimento humano. O nosso clamor é a não a destruição da Amazônia. Outros problemas: ameaça aos povos indígenas em isolamento voluntário, a migração, a urbanização, a família e a comunidade, a corrupção, a saúde integral, a educação integral e a conversão ecológica.
3. Igreja Profética na Amazônia: Desafios e esperanças. “Quem dera que tudo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor pusesse sobre eles o seu espirito!” (Nm 11,29)A Igreja tem que ser com rosto amazônico que encontra sua expressão na pluralidade de seus povos, culturas e ecossistemas. Esta diversidade necessita da opção por uma igreja missionária, em saída, encarnada em todas as suas atividades, expressões e linguagens. Necessitamos que os povos originários moldem culturalmente as Igrejas amazônicas locais. O rosto amazônico é o de uma Igreja com clara opção pelos pobres e com os pobres e pelo cuidado com a criação, que levam aos novos caminhos para a Igreja local com dimensão universal, uma Igreja participativa e criativa, uma Igreja que precisa muita de profetismo. Precisamos descolonizar as mentes, uma igreja com mentalidade eclesial; de colonial e patriarcal para uma Igreja em processo de conversão e reconciliação. Precisamos da fé dentro de uma liturgia inculturada, organizar as comunidades que possuem uma tradição rica. Outro é o desafio da evangelização nas cidades que exige uma missão urbana; a necessidade do dialogo ecumênico e inter-religioso; a missão dos meios de comunicação; a promoção humana integral. Uma observação feita por muitas pessoas é em torno dos novos ministérios para responder de modo mais eficaz as necessidades dos povos amazônicos: promover vocações autóctones, o celibato, o lugar da mulher, da vida consagrada e os jovens. Esperemos que este Sínodo seja uma expressão concreta da sinodalidade de uma igreja em saída, para que a vida plena que Jesus veio trazer ao mundo (Jo 10,10) chegue a todos, especialmente os pobres.