APELO DE PAZ
Nós, homens e mulheres de religiões diferentes, a convite da Comunidade de Sant’Egidio e da Arquidiocese de Madrid, congregamo-nos como peregrinos nesta maravilhosa cidade em busca de novos caminhos de Paz, oitenta anos após a explosão da Segunda Guerra Mundial. Temos orado, temos escutado a lamentação silenciosa e o grito daqueles que acabaram sendo excluídos do bem-estar, que ficaram no meio de guerras ou em terras onde mais nada se produz, aos quais foi tirada a consideração de ser pessoas, homens ou mulheres como nós.
Estamos preocupados com as gerações vindouras, pois estamos a assistir ao esgotamento do único planeta que é de todos - mas parece ser só de alguns. Estamos preocupados com o reaparecimento do culto da força e das contraposições de teor nacionalista, que têm criado grandes prejuízos ao longo da história. Estamos preocupados com o terrorismo que não para de atingir pessoas inermes. Estamos preocupados porque o sonho a Paz parece enfraquecido.
Num mundo cada vez mais interdependente, reaparece a antiga tentação de acreditar que os grandes problemas se possam resolver a sós. Guerras e paz, pandemias, segurança e segurança informática, deslocação de populações, sustentabilidade do planeta e aquecimento global, fim do risco atómico e redução das desigualdades são questões fora do alcance de uma só nação. Não, é preciso diálogo e cooperação.
Não podemos deixar por detrás do muro da indiferença os mais fracos, os atingidos pela violência ou pelo desprezo - pelo único facto de serem diferentes, por rezarem ou falarem numa língua distinta. Não podemos aceitar o desperdício irresponsável de ar, água, terra, recursos humanos: desta forma, pesos e custos insuportáveis sobrecarregarão as gerações vindouras.
Pedimos a todos, aos responsáveis políticos, aos mais ricos, aos homens e às mulheres de boa vontade, de proporcionar os recursos necessários a evitar que milhões de crianças morram cada ano sem medicamentos, e para matricular milhões de crianças que não têm acesso à educação. Será um sinal de esperança para todos.
Não nos escondamos por destrás de um muro de indiferença! Deus náo quer a separação entre os irmãos. Deus não quer as guerras. Temos aprendido isso: quem utilizar o nome de Deus para justificar a guerra, a violência e o terrorismo está a profanar o próprio nome de Deus.
Quem acreditar em Deus descobre que o mundo è uma casa comum, moradia da família dos povos. As religiões, tal como os indivíduos e os povos, têm à sua frente dois caminhos: trabalhar para uma unificação espiritual que fez falta a uma globalizão apenas financeira; ou deixar-se instrumentalizar por aqueles que abençoam as fronteiras e os conflitos.
Comprometemo-nos, antes de tudo, a orar. Pedimos, para nós e para o mundo, o dom dos olhos de Deus, que libertam da cegueira e fazem reconhecer o outro como irmão. Pedimos a Deus a força paciente do diálogo, e de adquirir uma linguagem sábia e mansa, capaz de falar aos corações e de desarmar as separações e as contraposições.
È verdade, uma Paz sem fronteiras é o anseio profundo do nosso mundo. Pela ajuda de Deus e pela oração, uma Paz sem confins é possível.
Madrid, a 17 de Setembro de 2019
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